sexta-feira, 16 de julho de 2010

Desejo

Quando eu morrer adornem-me de flores,
Descubram-me das vendas do mistério,
E ao som dos versos que compus carregem
Meu dourado caixão ao cemitério.

Abram-me um fosso no lugar mais fresco,
Cantem ainda, e deixem-me cantando;
Talvez assim a terra se converta
De suave dormir num leito brando.

Em poucos meses far-me-ei poeira,
Porém que importa, se mais pura e bela
Minha alma livre dormirá sorrindo
Talvez nos raios de encantada estrela.

E lá de cima velarei teu sono,
E lá de cima esperarei por ti,
Pálida imagem que do exílio escuro
Nas tristes horas de pesar sorri!

Ah! E contudo se deixando o globo
Ave ditosa eu não partisse só
Se ao mesmo sopro conduzisse unidas
Nossas essências num estreito nó.

Se junto do leito das finais angústias,
Da morte fria ao bafejar gelado
Eu te sentisse junto a mim dizendo:
São horas de marchar, eis-me ao teu lado.

Como eu me sentira resoluto e firme!
Como eu seguira teu voar bandito!
Como espancara com as possantes asas
O torvo espaço em busca do Infinito!

FAGUNDES VARELA

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